Comercio
internacional em baixa, uma busca incessante por novos consumidores e a
carência de novos produtos com expressão e aceitação popular. Reuniões
com diretores de marketing, membros do judiciário, generais com suas
estrelas reluzentes, psicólogos, autoridades policiais, políticas e
religiosas, grandes empresários e outros mais... E então! Ouve-se do canto da mesa, um grito de glória; Eureca!
Eis que surge a grande ideia de se criar um padrão de beleza capilar
com raízes fortes e resistentes, através das campanhas de exposição em
massa, veiculando, a imagem imaculada dos cabelos crespos, como se eles
fossem a essência padrão da beleza feminina.
Alguns planejamentos e
ajustes e logo o cabelo de origem afro descente é tudo o que há no
mundo da moda e dos moldes requintados. Campanhas em avanço... escolas
preparam a grande massa branca de jovens e crianças para a rejeição aos
cabelos lisos, livros históricos narram fatos onde pessoas brancas são
presas e traficadas em navios branqueiros, chicoteadas nos grilhões das
senzalas, cantando seus temores e dores, penteando seus cabelos lisos
nos pelourinhos da vida e trabalhando forçadamente nos canaviais sem a
devida proteção da pele branca, e sem alma, exposta ao sol e ao sal da
terra e tendo como heroína uma princesa de cabeleiras black power e sua
pena mágica da absolvição. Paralelamente as grandes indústrias de
brinquedos expõem suas estrelas na televisão, bonecas da pele morena com
cabeleiras crespas e volumosas de causar inveja a qualquer branquela de
cabelos escorridos, do outro lado da tela, garotinhas, integrantes da
periférica descendência européia, embalam em seus braços, protótipos de
beleza e sonham em desfilar a força da feminilidade, representada em
cabelos, capazes de hipnotizar quem os apreciem imponentes, mesmo ao se
depararem com as ventanias do outono, desejosas em mostrar a sua força
no Inverno, brilhar diante do sol de Verão e inspirar poetas em tardes
primaveris... E entorpecidas seguem essas pobres criaturas, suspirando e
desejando, com muito afinco, ser a Top Model em cabeleira de aceitação e
glamorização popular.
Nesse momento, alavancado e confiante nos
lucros, o mercado estético e de cosméticos colaboram com pesquisas e
fórmulas voltadas para a produção de produtos capazes de venderem a
promessa da magia da transição capilar, para que os seres, agora
inconformados com os seus alisonhos bisonhos, excluam a sua origem e
passem para o ápice crespôso. Diversas marcas de produtos
industrializados são oferecidos, diuturnamente, nas telinhas das tvs
fechadas e abertas, nos pop-ups dos sites visitados, no fundão dos
ônibus, nos outdoors das grandes avenidas e praças, nos facebooks e
books in face, um verdadeiro show de imagens, som e discurso apelativo
para que as desfavorecidas branquelas envergonhem-se dos seus lisos e
originais cabelos e sonhem em ter cabelos crespos mesmo que eles
distorçam diante dos seus narizes afilados, porém cabisbaixos pela não
aceitação das suas origens européias e pela baixa auto estima
alimentada, explícita até em marchinhas carnavalescas que eram versadas
com imagens e cabelos a flor da pele, como a dos cresposos irmãos João e
Raul Valença;
"os teus cabelos não nega branquela, por que és
branquela na cor, mas como a cor não pega branquela, branquela eu quero o
teu amor, e o teu cabelo me diga branquela, foi mesmo o teu deus que
alisou?..."
Seres de deus próprio e diferente!? Pois, até a crença,
a dança, a música, enfim, toda a cultura européia dessas figuras de
cabelos lisos, são alvos de ataque e diabolização fomentada pelos
ditadores Black Powers Rangers de dentes fortes e interesses
inescrupulosos.
Por: Moisés Carneiro
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