quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O MERCADO BRANCO; MARGINAL ALIZADO E TRANSITIVO

Comercio internacional em baixa, uma busca incessante por novos consumidores e a carência de novos produtos com expressão e aceitação popular. Reuniões com diretores de marketing, membros do judiciário, generais com suas estrelas reluzentes, psicólogos, autoridades policiais, políticas e religiosas, grandes empresários e outros mais... E então! Ouve-se do canto da mesa, um grito de glória; Eureca!
Eis que surge a grande ideia de se criar um padrão de beleza capilar com raízes fortes e resistentes, através das campanhas de exposição em massa, veiculando, a imagem imaculada dos cabelos crespos, como se eles fossem a essência padrão da beleza feminina.
Alguns planejamentos e ajustes e logo o cabelo de origem afro descente é tudo o que há no mundo da moda e dos moldes requintados. Campanhas em avanço... escolas preparam a grande massa branca de jovens e crianças para a rejeição aos cabelos lisos, livros históricos narram fatos onde pessoas brancas são presas e traficadas em navios branqueiros, chicoteadas nos grilhões das senzalas, cantando seus temores e dores, penteando seus cabelos lisos nos pelourinhos da vida e trabalhando forçadamente nos canaviais sem a devida proteção da pele branca, e sem alma, exposta ao sol e ao sal da terra e tendo como heroína uma princesa de cabeleiras black power e sua pena mágica da absolvição. Paralelamente as grandes indústrias de brinquedos expõem suas estrelas na televisão, bonecas da pele morena com cabeleiras crespas e volumosas de causar inveja a qualquer branquela de cabelos escorridos, do outro lado da tela, garotinhas, integrantes da periférica descendência européia, embalam em seus braços, protótipos de beleza e sonham em desfilar a força da feminilidade, representada em cabelos, capazes de hipnotizar quem os apreciem imponentes, mesmo ao se depararem com as ventanias do outono, desejosas em mostrar a sua força no Inverno, brilhar diante do sol de Verão e inspirar poetas em tardes primaveris... E entorpecidas seguem essas pobres criaturas, suspirando e desejando, com muito afinco, ser a Top Model em cabeleira de aceitação e glamorização popular.
Nesse momento, alavancado e confiante nos lucros, o mercado estético e de cosméticos colaboram com pesquisas e fórmulas voltadas para a produção de produtos capazes de venderem a promessa da magia da transição capilar, para que os seres, agora inconformados com os seus alisonhos bisonhos, excluam a sua origem e passem para o ápice crespôso. Diversas marcas de produtos industrializados são oferecidos, diuturnamente, nas telinhas das tvs fechadas e abertas, nos pop-ups dos sites visitados, no fundão dos ônibus, nos outdoors das grandes avenidas e praças, nos facebooks e books in face, um verdadeiro show de imagens, som e discurso apelativo para que as desfavorecidas branquelas envergonhem-se dos seus lisos e originais cabelos e sonhem em ter cabelos crespos mesmo que eles distorçam diante dos seus narizes afilados, porém cabisbaixos pela não aceitação das suas origens européias e pela baixa auto estima alimentada, explícita até em marchinhas carnavalescas que eram versadas com imagens e cabelos a flor da pele, como a dos cresposos irmãos João e Raul Valença;
"os teus cabelos não nega branquela, por que és branquela na cor, mas como a cor não pega branquela, branquela eu quero o teu amor, e o teu cabelo me diga branquela, foi mesmo o teu deus que alisou?..."
Seres de deus próprio e diferente!? Pois, até a crença, a dança, a música, enfim, toda a cultura européia dessas figuras de cabelos lisos, são alvos de ataque e diabolização fomentada pelos ditadores Black Powers Rangers de dentes fortes e interesses inescrupulosos.
Por: Moisés Carneiro